Eis aqui as tropelias, dos modernos avançados, à custa dos
desgraçados, em todas as freguesias.
Tudo está nas mãos dos poderosos, já desde eras passadas,
grandes baldios e coutadas, que em tempo eram dos pobres.
Uns vestem de diamantes, outros roupa esfarrapada, a
injustiça culpada, jogadores e estravagantes.
Outros muito desgraçados, tributários da vaidade, vivendo
com necessidade, muitos filhos de morgados.
É a sina a destinar, cada um sujeito está, que seja boa ou
má, terá de se contentar.
Deus nunca faltou com Luz, para os crentes se guiarem, para
quantos trabalharem, pelo nome de Jesus.
Deus nunca faltou aos crentes, que amam do coração, com a
sua protecção, pelo que vivem contentes.
De que serve a presunção, a quem a tem com fartura, sem Deus
ninguém faz figura, quer seja rico ou não.
Tocadores de bandolim, de guitarra ou de rabeca, não têm dó
de quem perca, vida ou outro ou marfim.
Os tocadores todos são, mui chegados ao toque, armados de
pau e estoque, esses de mau coração.
Levam a noite a tocar, sem fazerem oração, amigos da
reinação, poucos se vêem rezar.
Obras, fé e devoção, podem-nos fazer anjinhos, são os mais
claros caminhos, para fugir ao dragão.
Fora de Deus ninguém tem, alegria nem prazer, nada somos sem
Deus querer, tudo que é bom de Deus vem.
Quem não reza não tem fé, quem não tem fé não merece, tanto
bem que não conhece, a Graça que o traz de pé.
Hoje os amos e criados, já pouco vão à igreja, com medo que
alguém os veja, dentro dos tempos sagrados.
Mas entram com afoiteza, nas tabernas e «caféis», como se
fossem quartéis, da mais subida grandeza.
Ali gastam o dinheiro, que lhes custou a ganhar, todo o que
haviam de dar, para os pobres em primeiro.
Sem saber porque maneira, o hão-de ver a marchar, em vícios
o vão gastar, não fica na algibeira.
Vinho, café e aguardente, jogo e tudo quanto é vício, quanto
a fazer benefício, ninguém o faz dessa gente.
O dinheiro que pertencer, por lei às causas sagradas, em
vícios e fantochadas, o mundo o há-de moer.
Outro vai em desventuras, que terão durante a vida, até que
seja perdida, abaixando às sepulturas.
Escusa o mundo de pensar, em fazer o que quiser, quando o
castigo vier, não tem por onde escapar.
Os modernos avançados, que pensam o que não são, prometem
que também não, ficarão mal amanhados.
Onde ainda a paz domina, é que são uns ferrabrases, estes
modernos rapazes, contrários à lei divina.
Os grandes exploradores, querem-nos sacrificar, mas gostam
de arrecadar, o dinheiro e seus valores.
Pelas obras se conhecem, neste mundo as criaturas, muitos
com boas figuras, bom conceito não merecem.
Apregoando o bom mel, daquele de enxame novo, só que vão
vendendo ao povo, vinagre junto com fel.
Apregoam o bom pano, e a melhor carne do talho, mas vão
vendendo o escumalho, a todo o género humano.
Fazendo celeiro enorme, jogam com toda a fraqueza, não tendo
dó que a pobreza, morra esquecida com fome.
Grandes contas há a dar, quando nos forem pedidas, as almas
comprometidas, terão muito que chorar.
Querem chegar às alturas, do ano dois mil e quatro, hão-de
ver o mundo farto, de fomes e amarguras.
Os tempos que estão a vir, mostram grande escuridão, sem
carne, vinho ou pão, nem roupa para vestir.
Secam-se as fontes e rios, nas terras só nascem espinhos, ai
de nós os pobrezinhos, sofrendo fomes e frios.
Seja bendito Jesus, e seu divino poder, todos iremos sofrer,
cada um a sua cruz.
Os homens mal educados, pisam a lei do Senhor, grande há-de
ser o vigor, quando forem castigados.
A entrada de estrangeiros, nesta nação portuguesa, virá
roubar com certeza, nossas vidas e dinheiro.
O Bandarra assim o diz, nas obras que deixou escritas, já
vão aparecendo fitas, neste andamento infeliz.
Tanto nós como os estrangeiros, todo aquele que andar mal,
vê-los-ão em Portugal, fugindo pelos outeiros.
Depois de muito sofrer, Portugal tão pequenino, virá o Verbo
Divino, alargá-lo e estender.
Olhai para a luz do Sol, enxofrada e meia azul, em toda a
área do Sul, indica Era melhor.
Já não é para os velhinhos, verem tanta felicidade, mas cá
fica a mocidade, de ricos e pobrezinhos.
Para gozar tanto bem, que já nos está prometido, a Portugal
escolhido, que do Alto Céu lhe vem.
Já vou dando os parabéns, aos portugueses modernos,
herdeiros de bens eternos, tão linda sorte que tem.
Com inveja satanás, bastante tem trabalhado, se muitos tem
do seu lado, pouca mais colheita faz.
Há-de ser acorrentado, nas cavernas infernais, onde há
outros muitos mais, que nos têm atentado.
Os do Alentejo e Beiras, cheios de uso e razão, hão-de ver
esta nação, dominar as estrangeiras.
Honra, brio e dignidade, vão haver com mais fartura, nenhuma
só criatura, fará uso da maldade.
Luxo em comer e beber, luxo em terra e luxo em mar, o luxo
há-de acabar, para nunca mais haver.
Grandes martírios e dores, que nos hão-de afligir, antes da
fartura vir, vem a Era das Flores.
Dentro dos nossos estados, deixará de haver pobreza, nesta
nação portuguesa, todos hão-de ser honrados.
Mas para esta perfeição, chegar a ser conhecida, há-de
custar muita vida, desta ditosa nação.
Tudo aquilo que é vaidade, irá ter um fim fatal, e dentro de
Portugal, reinará honestidade.
Ai de tantos pecadores, que de Deus andam esquecidos, à
sombra dos escolhidos, vivem muitos malfeitores.
À sombra das orações, que os fiéis fazem a Deus, vivem no
mundo ateus, assassinos e ladrões.
Muitos vivem enganados, no seu modo de pensar, já nem benzer
nem rezar, nem ir aos locais sagrados.
Vão às casas camareiras, tabernas ou de batota, se os querem
ver em pinhota, dias e noites inteiras.
Este mundo é uma vinha, os homens são os vinheiros, de todos
os bens herdeiros, sou herdeiro da parte minha.
As cepas são as pessoas, de onde procede o vinho, de cada um
seu copinho, poucas colheitas são boas.
Se a planta é colocada, em terra de boa idade, dará fruto em
quantidade, nem precisa de ser podada.
O homem nasce inocente, na sua simplicidade, filho da
Humanidade, do mesmo seu semelhante.
Nasce quase sem se ver, nem saber porque maneira, nesta tão
espaçosa eira, em que estamos a viver.
Quem não tem fé não atina, anda sempre de mergulho, cheio de
soberbo orgulho, contra a vontade Divina.
Grande é o entendimento, que Deus deu às criaturas, que
fazem obras e pinturas, do mais fino luzimento.
A muita sabedoria, com a subida riqueza, põem na rua a
pureza, e abrem a porta à orgia.
Não sendo bem empregado, todo o bem que Deus nos dá, cada um
sujeito está, a vir a ser castigado.
Os homens não agradecem, tanto bem que Deus lhe faz, os que
amam a satanás, o seu coração lhe oferecem.
Cidade de Alexandria, fonte de muita riqueza, que a nação
portuguesa, lhe há-de tirar um dia.
As outras muitas cidades, que são o terror do mundo, quando
vier o Segundo, ai das falsas unidades.
Vai haver muita fartura, de tudo quanto é preciso, honra,
paz e bom juízo, além de amor e candura.
As nações olham de lado, para Portugal pequeno, sabem que
para este reino, muito bem está reservado.
Tenho pensado e lido, tenho lido e pensado, que o homem mal
educado, está sempre comprometido.
Quem amar o que Deus quer, anda sempre bem guiado, solteiro,
viúvo ou casado, quer tenha ou não mulher.
Brevemente há-de aparecer, uma Era Florida, para recreio da
vida, feliz do que então a viver.
Este mundo foi formado, pela Santíssima Trindade, e dado à
Humanidade, mas tão mal aproveitado.
Homem que não tem carinho, nem amor à Divindade, não pode
ter caridade, como seu irmão pobrezinho.
Quanto mais lenha juntar, o mundo no seu quintal, maior
há-de-ser o mal, que nos vai atormentar.
O saber tem o direito, de ser tido e respeitado, sendo fiel
e honrado, na sua vida o sujeito.
Quem não lê nem faz jornada, pouco sabe e pouco vê, com
muito pouco que «sê», vou dando algumas passadas.
Os homens não querem ler livros de história sagrada, por
isso não sabem nada, do que podiam saber.
Romances e fantochadas, e cantigas de perdidas, são as
histórias mais lidas, por gentes mal educadas.
O homem sem instrução, não vê a terra que pisa, se a
consciência o avisa, não lhe quer dar atenção.
Ai daquele que semeia, no mundo iniquidade, pois toma a
responsabilidade, da honra e da vida alheia.
A ambição de adquirir, neste mundo cabedais, não sendo
espirituais, de nada lhe vão servir.
No corpo não há confiança, tributário da vaidade, roubador
da virgindade, morada de ódio e vigança.
Mas temos que o estimar, para podermos viver, não o deixando
fazer, tudo quanto desejar.
Dar-lhe o devido sustento, como vestir e calçar, escrever,
ler e contar, e o divino alimento.
Quem olhar com atenção, para os tempos actuais, vê subir
cada vez mais, o preço da carne e do pão.
As mais precisões da vida, vão pelo mesmo caminho, só há
fartura de vinho, e de semente falida.
Há outras muitas sementes, como o joio e o cizirão, com
tamanha produção, que cobrem os continentes.
São sementes extraordinárias, nascem sem ser semeadas, as
que não forem mondadas, roubam o fruto às searas.
Todas hão-de ir à eira, para lá serem queimadas, só ficando
as apuradas, da mais fina sementeira.
Todo aquele que se rir, quando vir o mal alheio, há-de ver o
seu mais feio, nos tempos que estão para vir.
Anda o mundo embasbacado, pelas grandezas terrenas, onde
existem dores apenas, e tanto mal somado.
Está a aproximar-se a hora, e o dia da formação, de uma tão
grande nação, que todo o mundo ignora.
Nesta nação nascerá, o Quinto Império do mundo, quando vier
o Segundo, do lugar onde ele está.
Com seu poder divinal, onde é tão desejado, por quem é do
seu agrado, no reino de Portugal.
É no trono português, desta tão nobre nação, que El-rei D.
Sebastião, se vai sentar outra vez.
Grande será a alegria, deste povo nesta altura, tudo o que é
bom e fartura, nos traz essa Monarquia.
Far-se-ão grandes celeiros, com bem largas dimensões, para
recolher os dinheiros, vindos de muitas nações.
Quanto mais se aproximar, o tempo que está para vir, mais
nos hão-de afligir, os casos que se hão-de dar.
As muitas águas chuvidas, com ventos impertinentes, causarão
grandes enchentes e sementeiras perdidas.
Pelas águas de enxurradas, se perderão as searas, fazendo as
comidas caras, e árvores de fruto arrastadas.
Os males não faltarão, e vindos sem serem esperados, ai dos
que forem culpados, de tanta profanação.
Cauda um por sua vez, tem feito e faz o que quer, mas quando
a morte vier, dará contas do que fez.
Nestes tempos de amargura, vemos o mal progredir, o que é
bom vai a fugir, fica a vaidade e loucura.
Gente a chorar e meio nua, pelas ruas vai andar, sem casa
para morar, que os donos põem na rua.
O caminho espiritual, muito poucos o conhecem, pois tudo que
é bom esquecem, só não se esquecem do mal.
Ai de tanta confusão, nos tempos que estão a vir, para cada
um sentir, de tanto mal um quinhão.
Entre tantos desacatos, alegrem-se os corações, que os que
sofrem privações, depressa hão-de ser fartos.
Pelo caminho do mal, vão marchando a passos largos, muitos
pobres e fidalgos, que desonram Portugal.
Ai de tanta criancinha, de mães sem leite e sem pão, ai de
tanta confusão, com as posses tão mesquinhas.
Ai de quem manga e ri, daquilo que é respeitado, pois será
recompensado, quando o mal cair em si.
O dilúvio está chegando, e segundo a Escritura, se o outro
foi de água pura, este é de sangue encarnado.
Descalças e quase nuas, veremos pessoas finas, a chorar
pelas esquinas, pedindo esmola nas ruas.
É coisa de admirar, o que se vê na Europa, muita gente já
sem copa, nem casa para morar.
Cada vez mais oprimidas, a marcha das criaturas, cada vez
mais amarguras, maiores tormentos de vida.
Portugal perdeu a fama, que noutros tempos ganhou, quando à
índia chegou, o grande Vasco da Gama.
Se Portugal foi grande, muito maior há-de ser, quando um
Divino poder, vier de longe e o mande.
Portugal está a olhar, para o teu ponto de mira, se a tua
sorte não gira, alguém a fará girar.
Venham marinheiros do Norte, com todo o seu pessoal, acudir
a Portugal, nas agonias da morte.
Dias tão amargurados, que nos hão-de afligir, diz a história
que não-de vir, quando forem menos esperados.
Anda tudo enrolado, nos limites da Europa, mal dos civis e
da tropa que vivem num triste estado.
Sendo a Europa o berço, da mais pura religião, a moderna
geração, mudou tudo do avesso.
Muitos ímpios neste andar, querem tudo ao seu jeito,
destruir o que está feito, comer e não trabalhar.
Os ímpios não querem crer, neste Mistérios falados, suas
culpas e pecados, não deixam ouvir nem ver.
O tempo de impiedade, que agora tanto figura, dizem ser de
pouca dura, a sua prosperidade.
Até chegar essa hora, de tanto bem aparecer, temos muito que
sofrer, no continente e lá fora.
Todo o nosso Portugal, há-de ser recompensado, quando vier o
Desejado, quinta-feira de Natal.
Mas antes dele chegado, quatro anos passarão, são três
invernos e um verão, foi assim profetizado.
No fim dos quatro contados, sete dias se hão-de ver, de
nevoeiros cerrados, e o Sol sem aparecer.
Outros sete se hão-de ver, de chuva que nos dirão, que
entrará D. Sebastião, antes da manhã romper.
Pelo que estamos a ler, são mui certas as profecias, de
Daniel e Jeramias, em Esdras o podeis ver.
Ninguém quer acreditar, todos fazem mangação, hão-de ver D.
Sebastião, segunda vez a reinar.
Alguns terão o lugar, de contarem estes ditos, ficam
arquivos escritos, para o tempo os aprovar.
Alegrem-se os de Lisboa, e da vila de Cacilhas, pois estas
duas famílias, irão gozar coisa boa.
Quando virem em Cacilhas, a bandeira arvorada, com a Coroa
Imperial, azul, branca e encarnada.
Toda cercada de flores, na mais linda perfeição, que vem
salvar a nação, de tantas fomes e dores.
Ditoso cais de Belém, que verás desembarcar, trinta mil
homens do mar, vindo o vosso Rei também.
E será a sua entrada, em Lisboa nesse dia, onde há tanta
artilharia, para a barra apontada.
Todas essas precauções, de nada lhes vão servir, pois nada
pode impedir esses valentes dragões.
Trazem consigo um poder, que atormenta os que cá estão, as
pedras estourarão, fazendo a terra tremer.
Hão-de passar livremente, pelo cais de Belém, com tudo
quanto mais vem, sem nada se pôr na frente.
No forte da guarnição, onde há tanta artilharia, sentinelas
de vigia, de nada lhes valerão.
A vaca receberá, a nova gente que vem, com prazer de tanto
bem, seu leite derramará.
Ai de tantos bezerrinhos, que mamaram o leito à vaca, quando
saltarem da barca, tantos soldados marinhos.
Hão-de ter um bom almoço, os que já estão apontados, para
serem castigados, sofrendo grande destroço.
Ficarão só os escolhidos, da mais apurada raça, os mais
cairão na praça, e aos montes estendidos.
Os corneteiros e tambores, fazendo o sinal da guerra, hão-de
ver cair por terra, os bezerros malfeitores.
A vaca que perde os filhos, são esses mais desinquietos,
ficarão deles os netos, que podem ser bons novilhos.
A geração apurada, com certeza há-de ser, mas nunca mais
hão-de ver, bois matreiros na boiada.
Hão-de ver o Mar vermelho, sem ir a Jerusalém, na vinda do
nosso bem, há-de parecer-te um espelho.
O sangue verás correr, pelas ruas de Lisboa, com o sangue o
mal voa, para nunca mais se ver.
Grande neblina cerrada, o profeta anuncia, que por perto do
meio-dia, está Lisboa conquistada.
Ditoso de quem escapar, de tão ditosa entrada, de família
não esperada, que nos virá libertar.
Quem tiver olhos de ver, há-de ver na multidão, a seu rei D.
Sebastião, coisa que não queria crer.
Visivelmente mostrado, hão-de ver o Bom Pastor, mas já como
Imperador, do Quinto Império falado.
Desapareceu a neblina, que até então escurecia, mostrando-se
claro o dia, bendita a Graça Divina.
Viva a paz, viva a candura, viva Lisboa chamada, que há-de
ser acrescentada, no comprimento e largura.
Foi a primeira a sofrer, mas há-de ser garantida, ficando
com larga vida, quando outras hão-de morrer.
Muitos disto se hão-de rir, e fazerem mangação, de um homem
sem instrução, mostrar o que está para vir.
Não falo só por falar nem porque tenha saber, falo porque
estou a ver, isto escrito em bom lugar.
Nada soube e nada sei, até ao dia presente, mas vivo muito
contente, com esta boa mercê.
Quem vos fala não sou eu, são os que deixaram escrito, se
isto é feio ou bonito, diga-o o povo europeu.