(Retirado do livro de Victor Mendanha, «A História Misteriosa de
Portugal» Páginas 353 a 366)
O NOSSO LIVREIRO, PESSOA DE RARA CULTURA, ENCONTROU NUMA PARTIDA de livros comprada a um particular um estranho manuscrito que, embora sem valor de antiguidade, apresentava atractivos muito interessantes no campo das profecias.
Trata-se de um livro para apontar as contas do dia, desses muito mais compridos do que largos, tão frequentemente nas mãos dos antigos taberneiros para registo dos copos vendidos, tanto pagos como fiados, onde alguém resolvera copiar, com paciência e caneta de molhar no tinteiro, quase todas as profecias populares conhecidas.
Quando o novo proprietário nos cedeu, para análise, o documento verificámos encontrarem-se lá registadas as profecias de S. Teófilo, as do Mouro, as do pretinho do Japão, as do Frade da Índia Portuguesa, as de Francisco Sebastião, as de João da Barroca, as de Orval, as do beato Gil e um nunca mais acabar de prognósticos.
No entanto, durante a leitura do manuscrito, um pormenor importante chamou-nos à atenção, a residir no facto de um terço das páginas do livro de contas encontrar-se ocupada por nada menos do que 1313 quadras sem referência ao autor, como se tratasse de um corpo profético especial.
Dedicando maior cuidado a este conjunto de quadras, chegámos à conclusão de que, ao contrário dos outros, não teria sido copiado de fontes alheias pelo paciente escrivão podendo ser da sua própria lavra profética.
Esta hipótese baseia-se em duas realidades evidentes: existem muitas quadras quase iguais, seguidas umas às outras, como se o poeta tentasse melhorar, nas segunda tentativa, o estilo das primeiras mas mantendo o conteúdo ideológico; durante a pesquisa por nós efectuada na Biblioteca Nacional, onde detectámos praticamente todas as profecias portuguesas, não descobrimos as 1313 quadras de que tratamos.
Outra característica particular aguçou ainda mais a nossa curiosidade pois, ao analisar melhor as mais de mil sentenças rimadas, demos conta de que muitas delas se encontram deslocadas do seu lugar lógico, já que a narrativa dava saltos, surgindo quadras daquilo a que poderemos chamar de consequências antes daquelas onde o profeta menor adiantava as causas.
Mercê de aturado trabalho de expurgo das sentenças repetidas, onde anulámos todas as quadras suspeitas de não passarem de primeiro registo da ideia subitamente surgida na mente do autor, recusámos colocá-las segundo uma ordem lógica pois Deus escreve direito por linhas tortas e, ao pretendermos fazer o presumido bem, poderíamos estar anulando o objectivo esotérico a presidir ao seu envio e redacção.
Achámo-nos perante o melhor conjunto de profecias sebásticas jamais publicado, contendo precisões claras e um encandeamento fortemente esclarecedor, a data do regresso de D. Sebastião, afinal o início da Idade do Espírito Santo.
Na linha dos profetas hebreus, o autor anónimo que viveu antes do início deste século faz, em primeiro lugar, o retrato da velha idade e do seu agonizar, critica o procedimento imoral dos homens, anuncia uma situação de degradação ainda maior dos costumes e das relações entre pessoas – porventura aquela que estamos a viver – fornecendo, também, uma certa esperança com o desvendar da futura idade ou Era das Flores, para finalizar descrevendo a vinda de D. Sebastião, a quem também chama o Segundo ou ou Desejado.
A quantidade de dados de referência fornecidos é desusada, principalmente quanto ao momento do regresso daquele cujo Império será, então, Império do Espírito ou Quinto Império, indicando a data com os pormenores de tratar-se do ano em que o Natal calhe a uma quinta-feita, depois de três anos só de frio e um só de calor, e após sete dias de nevoeiro e sete de chuva.
O desembarque de D. Sebastião, acompanhado de 30 mil dragões do Mar, far-se-á no Cais de Belém, perante a impossibilidade de reacção dos seus inimigos e do silêncio das baterias de artilharia apontadas, já que «trazem consigo um poder que atormenta os que cá estão, as pedras estourarão, fazendo a terra tremer».
Para alívio da vaca, na teta da qual os bezerros malfeitores não param de mamar, esse dia será o último de tal abuso porque seguir-se-á o castigo capital de tais bezerros restando só os escolhidos para não haver, nunca mais, bois matreiros na boiada…
Finalmente, o profeta português confessa não ter instrução e não falar por saber falar, nem porque tenha saber, «falo porque estou a ver, isto escrito em bom lugar», o que denuncia possuir capacidades para fugir ao factor tempo e poder observar o futuro.
Como as quadras, no misterioso livro de contas, foram manuscritas de forma corrida e não com os versos partidos, optámos por publicá-las da mesma forma, mantendo-se assim mais entendíveis.
Aqui as deixo à vossa consideração:
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Eis aqui as tropelias, dos
modernos avançados, à custa dos desgraçados, em todas as freguesias.
Tudo está nas mãos dos poderosos, já desde eras
passadas, grandes baldios e coutadas, que em tempo eram dos pobres.
Uns vestem de diamantes, outros roupa esfarrapada, a injustiça
culpada, jogadores e estravagantes.
Outros muito desgraçados, tributários da vaidade, vivendo com
necessidade, muitos filhos de morgados.
É a sina a destinar, cada um sujeito está, que seja boa ou má, terá
de se contentar.
Deus nunca faltou com Luz, para os crentes se guiarem, para quantos
trabalharem, pelo nome de Jesus.
Deus nunca faltou aos crentes, que amam do coração, com a sua
protecção, pelo que vivem contentes.
De que serve a presunção, a quem a tem com fartura, sem Deus ninguém
faz figura, quer seja rico ou não.
Tocadores de bandolim, de guitarra ou de rabeca, não têm dó de quem
perca, vida ou outro ou marfim.
Os tocadores todos são, mui chegados ao toque, armados de pau e
estoque, esses de mau coração.
Levam a noite a tocar, sem fazerem oração, amigos da reinação,
poucos se vêem rezar.
Obras, fé e devoção, podem-nos fazer anjinhos, são os mais claros
caminhos, para fugir ao dragão.
Fora de Deus ninguém tem, alegria nem prazer, nada somos sem Deus
querer, tudo que é bom de Deus vem.
Quem não reza não tem fé, quem não tem fé não merece, tanto bem que
não conhece, a Graça que o traz de pé.
Hoje os amos e criados, já pouco vão à igreja, com medo que alguém
os veja, dentro dos tempos sagrados.
Mas entram com afoiteza, nas tabernas e «caféis», como se fossem
quartéis, da mais subida grandeza.
Ali gastam o dinheiro, que lhes custou a ganhar, todo o que haviam
de dar, para os pobres em primeiro.
Sem saber porque maneira, o hão-de ver a marchar, em vícios o vão
gastar, não fica na algibeira.
Vinho, café e aguardente, jogo e tudo quanto é vício, quanto a fazer
benefício, ninguém o faz dessa gente.
O dinheiro que pertencer, por lei às causas sagradas, em vícios e
fantochadas, o mundo o há-de moer.
Outro vai em desventuras, que terão durante a vida, até que seja
perdida, abaixando às sepulturas.
Escusa o mundo de pensar, em fazer o que quiser, quando o castigo
vier, não tem por onde escapar.
Os modernos avançados, que pensam o que não são, prometem que também
não, ficarão mal amanhados.
Onde ainda a paz domina, é que são uns ferrabrases, estes modernos
rapazes, contrários à lei divina.
Os grandes exploradores, querem-nos sacrificar, mas gostam de
arrecadar, o dinheiro e seus valores.
Pelas obras se conhecem, neste mundo as criaturas, muitos com boas
figuras, bom conceito não merecem.
Apregoando o bom mel, daquele de enxame novo, só que vão vendendo ao
povo, vinagre junto com fel.
Apregoam o bom pano, e a melhor carne do talho, mas vão vendendo o
escumalho, a todo o género humano.
Fazendo celeiro enorme, jogam com toda a fraqueza, não tendo dó que
a pobreza, morra esquecida com fome.
Grandes contas há a dar, quando nos forem pedidas, as almas
comprometidas, terão muito que chorar.
Querem chegar às alturas, do ano dois mil e quatro, hão-de ver o
mundo farto, de fomes e amarguras.
Os tempos que estão a vir, mostram grande escuridão, sem carne,
vinho ou pão, nem roupa para vestir.
Secam-se as fontes e rios, nas terras só nascem espinhos, ai de nós
os pobrezinhos, sofrendo fomes e frios.
Seja bendito Jesus, e seu divino poder, todos iremos sofrer, cada um
a sua cruz.
Os homens mal educados, pisam a lei do Senhor, grande há-de ser o
vigor, quando forem castigados.
A entrada de estrangeiros, nesta nação portuguesa, virá roubar com
certeza, nossas vidas e dinheiro.
O Bandarra assim o diz, nas obras que deixou escritas, já vão
aparecendo fitas, neste andamento infeliz.
Tanto nós como os estrangeiros, todo aquele que andar mal, vê-los-ão
em Portugal, fugindo pelos outeiros.
Depois de muito sofrer, Portugal tão pequenino, virá o Verbo Divino,
alargá-lo e estender.
Olhai para a luz do Sol, enxofrada e meia azul, em toda a área do
Sul, indica Era melhor.
Já não é para os velhinhos, verem tanta felicidade, mas cá fica a
mocidade, de ricos e pobrezinhos.
Para gozar tanto bem, que já nos está prometido, a Portugal
escolhido, que do Alto Céu lhe vem.
Já vou dando os parabéns, aos portugueses modernos, herdeiros de
bens eternos, tão linda sorte que tem.
Com inveja satanás, bastante tem trabalhado, se muitos tem do seu
lado, pouca mais colheita faz.
Há-de ser acorrentado, nas cavernas infernais, onde há outros muitos
mais, que nos têm atentado.
Os do Alentejo e Beiras, cheios de uso e razão, hão-de ver esta
nação, dominar as estrangeiras.
Honra, brio e dignidade, vão haver com mais fartura, nenhuma só
criatura, fará uso da maldade.
Luxo em comer e beber, luxo em terra e luxo em mar, o luxo há-de
acabar, para nunca mais haver.
Grandes martírios e dores, que nos hão-de afligir, antes da fartura
vir, vem a Era das Flores.
Dentro dos nossos estados, deixará de haver pobreza, nesta nação
portuguesa, todos hão-de ser honrados.
Mas para esta perfeição, chegar a ser conhecida, há-de custar muita
vida, desta ditosa nação.
Tudo aquilo que é vaidade, irá ter um fim fatal, e dentro de
Portugal, reinará honestidade.
Ai de tantos pecadores, que de Deus andam esquecidos, à sombra dos
escolhidos, vivem muitos malfeitores.
À sombra das orações, que os fiéis fazem a Deus, vivem no mundo
ateus, assassinos e ladrões.
Muitos vivem enganados, no seu modo de pensar, já nem benzer nem
rezar, nem ir aos locais sagrados.
Vão às casas camareiras, tabernas ou de batota, se os querem ver em
pinhota, dias e noites inteiras.
Este mundo é uma vinha, os homens são os vinheiros, de todos os bens
herdeiros, sou herdeiro da parte minha.
As cepas são as pessoas, de onde procede o vinho, de cada um seu
copinho, poucas colheitas são boas.
Se a planta é colocada, em terra de boa idade, dará fruto em
quantidade, nem precisa de ser podada.
O homem nasce inocente, na sua simplicidade, filho da Humanidade, do
mesmo seu semelhante.
Nasce quase sem se ver, nem saber porque maneira, nesta tão espaçosa
eira, em que estamos a viver.
Quem não tem fé não atina, anda sempre de mergulho, cheio de soberbo
orgulho, contra a vontade Divina.
Grande é o entendimento, que Deus deu às criaturas, que fazem obras
e pinturas, do mais fino luzimento.
A muita sabedoria, com a subida riqueza, põem na rua a pureza, e
abrem a porta à orgia.
Não sendo bem empregado, todo o bem que Deus nos dá, cada um sujeito
está, a vir a ser castigado.
Os homens não agradecem, tanto bem que Deus lhe faz, os que amam a
satanás, o seu coração lhe oferecem.
Cidade de Alexandria, fonte de muita riqueza, que a nação
portuguesa, lhe há-de tirar um dia.
As outras muitas cidades, que são o terror do mundo, quando vier o
Segundo, ai das falsas unidades.
Vai haver muita fartura, de tudo quanto é preciso, honra, paz e bom
juízo, além de amor e candura.
As nações olham de lado, para Portugal pequeno, sabem que para este
reino, muito bem está reservado.
Tenho pensado e lido, tenho lido e pensado, que o homem mal educado,
está sempre comprometido.
Quem amar o que Deus quer, anda sempre bem guiado, solteiro, viúvo
ou casado, quer tenha ou não mulher.
Brevemente há-de aparecer, uma Era Florida, para recreio da vida,
feliz do que então a viver.
Este mundo foi formado, pela Santíssima Trindade, e dado à
Humanidade, mas tão mal aproveitado.
Homem que não tem carinho, nem amor à Divindade, não pode ter
caridade, como seu irmão pobrezinho.
Quanto mais lenha juntar, o mundo no seu quintal, maior há-de-ser o
mal, que nos vai atormentar.
O saber tem o direito, de ser tido e respeitado, sendo fiel e
honrado, na sua vida o sujeito.
Quem não lê nem faz jornada, pouco sabe e pouco vê, com muito pouco
que «sê», vou dando algumas passadas.
Os homens não querem ler livros de história sagrada, por isso não
sabem nada, do que podiam saber.
Romances e fantochadas, e cantigas de perdidas, são as histórias
mais lidas, por gentes mal educadas.
O homem sem instrução, não vê a terra que pisa, se a consciência o
avisa, não lhe quer dar atenção.
Ai daquele que semeia, no mundo iniquidade, pois toma a
responsabilidade, da honra e da vida alheia.
A ambição de adquirir, neste mundo cabedais, não sendo espirituais,
de nada lhe vão servir.
No corpo não há confiança, tributário da vaidade, roubador da
virgindade, morada de ódio e vigança.
Mas temos que o estimar, para podermos viver, não o deixando fazer,
tudo quanto desejar.
Dar-lhe o devido sustento, como vestir e calçar, escrever, ler e
contar, e o divino alimento.
Quem olhar com atenção, para os tempos actuais, vê subir cada vez
mais, o preço da carne e do pão.
As mais precisões da vida, vão pelo mesmo caminho, só há fartura de
vinho, e de semente falida.
Há outras muitas sementes, como o joio e o cizirão, com tamanha
produção, que cobrem os continentes.
São sementes extraordinárias, nascem sem ser semeadas, as que não
forem mondadas, roubam o fruto às searas.
Todas hão-de ir à eira, para lá serem queimadas, só ficando as
apuradas, da mais fina sementeira.
Todo aquele que se rir, quando vir o mal alheio, há-de ver o seu
mais feio, nos tempos que estão para vir.
Anda o mundo embasbacado, pelas grandezas terrenas, onde existem
dores apenas, e tanto mal somado.
Está a aproximar-se a hora, e o dia da formação, de uma tão grande
nação, que todo o mundo ignora.
Nesta nação nascerá, o Quinto Império do mundo, quando vier o
Segundo, do lugar onde ele está.
Com seu poder divinal, onde é tão desejado, por quem é do seu
agrado, no reino de Portugal.
É no trono português, desta tão nobre nação, que El-rei D.
Sebastião, se vai sentar outra vez.
Grande será a alegria, deste povo nesta altura, tudo o que é bom e
fartura, nos traz essa Monarquia.
Far-se-ão grandes celeiros, com bem largas dimensões, para recolher
os dinheiros, vindos de muitas nações.
Quanto mais se aproximar, o tempo que está para vir, mais nos hão-de
afligir, os casos que se hão-de dar.
As muitas águas chuvidas, com ventos impertinentes, causarão grandes
enchentes e sementeiras perdidas.
Pelas águas de enxurradas, se perderão as searas, fazendo as comidas
caras, e árvores de fruto arrastadas.
Os males não faltarão, e vindos sem serem esperados, ai dos que
forem culpados, de tanta profanação.
Cauda um por sua vez, tem feito e faz o que quer, mas quando a morte
vier, dará contas do que fez.
Nestes tempos de amargura, vemos o mal progredir, o que é bom vai a
fugir, fica a vaidade e loucura.
Gente a chorar e meio nua, pelas ruas vai andar, sem casa para
morar, que os donos põem na rua.
O caminho espiritual, muito poucos o conhecem, pois tudo que é bom
esquecem, só não se esquecem do mal.
Ai de tanta confusão, nos tempos que estão a vir, para cada um
sentir, de tanto mal um quinhão.
Entre tantos desacatos, alegrem-se os corações, que os que sofrem
privações, depressa hão-de ser fartos.
Pelo caminho do mal, vão marchando a passos largos, muitos pobres e
fidalgos, que desonram Portugal.
Ai de tanta criancinha, de mães sem leite e sem pão, ai de tanta
confusão, com as posses tão mesquinhas.
Ai de quem manga e ri, daquilo que é respeitado, pois será
recompensado, quando o mal cair em si.
O dilúvio está chegando, e segundo a Escritura, se o outro foi de
água pura, este é de sangue encarnado.
Descalças e quase nuas, veremos pessoas finas, a chorar pelas
esquinas, pedindo esmola nas ruas.
É coisa de admirar, o que se vê na Europa, muita gente já sem copa,
nem casa para morar.
Cada vez mais oprimidas, a marcha das criaturas, cada vez mais
amarguras, maiores tormentos de vida.
Portugal perdeu a fama, que noutros tempos ganhou, quando à índia
chegou, o grande Vasco da Gama.
Se Portugal foi grande, muito maior há-de ser, quando um Divino
poder, vier de longe e o mande.
Portugal está a olhar, para o teu ponto de mira, se a tua sorte não
gira, alguém a fará girar.
Venham marinheiros do Norte, com todo o seu pessoal, acudir a
Portugal, nas agonias da morte.
Dias tão amargurados, que nos hão-de afligir, diz a história que
não-de vir, quando forem menos esperados.
Anda tudo enrolado, nos limites da Europa, mal dos civis e da tropa
que vivem num triste estado.
Sendo a Europa o berço, da mais pura religião, a moderna geração,
mudou tudo do avesso.
Muitos ímpios neste andar, querem tudo ao seu jeito, destruir o que
está feito, comer e não trabalhar.
Os ímpios não querem crer, neste Mistérios falados, suas culpas e
pecados, não deixam ouvir nem ver.
O tempo de impiedade, que agora tanto figura, dizem ser de pouca
dura, a sua prosperidade.
Até chegar essa hora, de tanto bem aparecer, temos muito que sofrer,
no continente e lá fora.
Todo o nosso Portugal, há-de ser recompensado, quando vier o
Desejado, quinta-feira de Natal.
Mas antes dele chegado, quatro anos passarão, são três invernos e um
verão, foi assim profetizado.
No fim dos quatro contados, sete dias se hão-de ver, de nevoeiros
cerrados, e o Sol sem aparecer.
Outros sete se hão-de ver, de chuva que nos dirão, que entrará D.
Sebastião, antes da manhã romper.
Pelo que estamos a ler, são mui certas as profecias, de Daniel e
Jeramias, em Esdras o podeis ver.
Ninguém quer acreditar, todos fazem mangação, hão-de ver D.
Sebastião, segunda vez a reinar.
Alguns terão o lugar, de contarem estes ditos, ficam arquivos
escritos, para o tempo os aprovar.
Alegrem-se os de Lisboa, e da vila de Cacilhas, pois estas duas
famílias, irão gozar coisa boa.
Quando virem em Cacilhas, a bandeira arvorada, com a Coroa Imperial,
azul, branca e encarnada.
Toda cercada de flores, na mais linda perfeição, que vem salvar a
nação, de tantas fomes e dores.
Ditoso cais de Belém, que verás desembarcar, trinta mil homens do
mar, vindo o vosso Rei também.
E será a sua entrada, em Lisboa nesse dia, onde há tanta artilharia,
para a barra apontada.
Todas essas precauções, de nada lhes vão servir, pois nada pode
impedir esses valentes dragões.
Trazem consigo um poder, que atormenta os que cá estão, as pedras
estourarão, fazendo a terra tremer.
Hão-de passar livremente, pelo cais de Belém, com tudo quanto mais
vem, sem nada se pôr na frente.
No forte da guarnição, onde há tanta artilharia, sentinelas de
vigia, de nada lhes valerão.
A vaca receberá, a nova gente que vem, com prazer de tanto bem, seu
leite derramará.
Ai de tantos bezerrinhos, que mamaram o leito à vaca, quando
saltarem da barca, tantos soldados marinhos.
Hão-de ter um bom almoço, os que já estão apontados, para serem
castigados, sofrendo grande destroço.
Ficarão só os escolhidos, da mais apurada raça, os mais cairão na
praça, e aos montes estendidos.
Os corneteiros e tambores, fazendo o sinal da guerra, hão-de ver
cair por terra, os bezerros malfeitores.
A vaca que perde os filhos, são esses mais desinquietos, ficarão
deles os netos, que podem ser bons novilhos.
A geração apurada, com certeza há-de ser, mas nunca mais hão-de ver,
bois matreiros na boiada.
Hão-de ver o Mar vermelho, sem ir a Jerusalém, na vinda do nosso
bem, há-de parecer-te um espelho.
O sangue verás correr, pelas ruas de Lisboa, com o sangue o mal voa,
para nunca mais se ver.
Grande neblina cerrada, o profeta anuncia, que por perto do
meio-dia, está Lisboa conquistada.
Ditoso de quem escapar, de tão ditosa entrada, de família não
esperada, que nos virá libertar.
Quem tiver olhos de ver, há-de ver na multidão, a seu rei D.
Sebastião, coisa que não queria crer.
Visivelmente mostrado, hão-de ver o Bom Pastor, mas já como
Imperador, do Quinto Império falado.
Desapareceu a neblina, que até então escurecia, mostrando-se claro o
dia, bendita a Graça Divina.
Viva a paz, viva a candura, viva Lisboa chamada, que há-de ser
acrescentada, no comprimento e largura.
Foi a primeira a sofrer, mas há-de ser garantida, ficando com larga
vida, quando outras hão-de morrer.
Muitos disto se hão-de rir, e fazerem mangação, de um homem sem
instrução, mostrar o que está para vir.
Não falo só por falar nem porque tenha saber, falo porque estou a
ver, isto escrito em bom lugar.
Nada soube e nada sei, até ao dia presente, mas vivo muito contente,
com esta boa mercê.
Quem vos fala não sou eu, são os que deixaram escrito, se isto é
feio ou bonito, diga-o o povo europeu.
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